quinta-feira, 10 de junho de 2010

-" O Palácio de D. Ana Joaquina, em Luanda "

No ano passado, informaram-me que o Palácio de D. Ana Joaquina tinha sido demolido, o que, para mim, foi uma triste notícia, pois o edifício era dos mais emblemáticos de Luanda. Felizmente, recebi há dias o desmentido e a confirmação de que o Palácio continua de pé, depois de dura batalha que, para bem de Angola, foi ganha por entidades conscientes do valor histórico do espólio arquitetóneo de Luanda.

Anterior a 1755, esta majestosa residência da rua Direita, bem característica do barroco colonial português, foi propriedade de D. Ana Joaquina dos Santos Silva. Essa opulenta mestiça que viveu até quase aos cem anos e se finou numa viagem a Portugal, nos finais do séc. XIX, talvez tenha herdado o sobrado de seus pais.
Certo é que detinha um imenso poderio económico e grande peso político. Era proprietária de um chorudo negócio de escravos, duma verdadeira frota de navios e senhora de um império agrícola. Gozava de notória influência política junto de variadas tribos do interior, influência essa que se estendia até à Lunda, para Leste, e até ao Bailundo e Namibe, para Sul. A ela recorreram, várias vezes, os Governadores-Gerais para servir de medianeira em conflitos com potentados do sertão.
Um viajante italiano da época, Tito Omborri, refere-se-lhe assim na sua obra “ Viaggi nell’Africa Ocidentale “: -“ o seu poder apoia-se nos sobas mais poderosos e na vassalagem de todas as populações que a chamam de sua raínha, porque conhece as diferentes línguas e detém em sua casa o empóreo do seu comércio … é obedecida pelas tribos mais longínquas; ninguém ousa contrariar a sua vontade e o próprio Governo de Luanda acha-se sem força para a defrontar…”.
No interior chamavam-lhe “ Dembo Ulála “ e em Luanda era conhecida pela Baronesa do Bungo, já que a sua grande casa se situava no bairro do mesmo nome, que se estendia até á actual Estação do Caminho de Ferro.
O Palácio de D. Ana Joaquina é e terá sido a maior das “Casas-Grandes” de Luanda. O edifício, no seu conjunto, terá resultado da construção de uma nova ala entre as outras duas contíguas e já existentes anteriormente, sendo a mais antiga a do lado SW. Teve na sua frente um vasto terraço, que foi sacrificado cerca de 1950, pela necessidade de alargar a rua Direita. Correm lendas de subterrâneos que ligavam o casarão à praia, por onde sairiam, após a lei da abolição, os escravos que D.Ana Joaquina continuava a negociar clandestinamente.
Apesar de necessitado de urgente restauro, o edifício mantém a sua traça original, com excepção das balaustradas das sacadas, que já não são as de madeira, do séc. XVIII, mas as colocadas no séc.XIX, em ferro.

Texto compilado a partir da obra “Luanda de outros tempos” de José Almeida Santos.

1 comentário:

  1. Oh! Bárbara... Quem é que naquela época, tendo possibilidades de o fazer, não fazia negócios de escravatura? E o principais eram os africanos.
    Como sabes,os precursores deste negócio foram os Árabes, seguidos de outros povos muçulmanos, a quem os portugueses arruinaram essa fonte de rendimento.
    Não os podemos condenar porque era uma prática corrente em todo o Mundo ! ...

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